sábado, 1 de setembro de 2018

O outro

Esse percurso que é preciso sempre e mais uma vez percorrer em direção ao outro não é em nada um percurso que se pode antever, como se fosse algo de linear, uniforme, previsível. Antes, é possível talvez um certo cuidado de nós mesmos, uma seleção mais acurada daquilo de que escolhemos nos alimentar, sejam vivências, alimentos ou cultura. Mas não só isso... Mais importante que isso ainda, há aquela pulsante urgência por criação que nos sufoca tanto, tanto, a ponto de a sustentação do mundo sensível depender justamente desse ato de criação, disso que não é senão uma decisão, um salto que se deve fazer com todo o coração ou não se deve fazer de todo. O ruminar é preciso, mas ele nunca é suficiente para se chegar à superfície dos acontecimentos. A maior parte do tempo posso sentir o ritmo da vida indo numa só direção, e essa direção é como um fenecimento... e me pergunto: onde eu posso encontrar uma fonte de vida pura donde eu possa beber sem acanhamento, em meio a esse grande caos? Preciso de algumas gotas dessa vida, senão perderei o fôlego. - - Esse caminhar em direção ao outro, que exige de nós vivacidade e agudeza, ele é algo que acontece antes como encontro de estados, algo fortuito, como chance, possibilidade. Haverá algo mais que isso?